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  • Foto do escritorMAX FERCONDINI

Dos Açores para a Inglaterra

Atualizado: 14 de dez. de 2020



TRAVESSIA DOS AÇORES PARA A INGLATERRA


Eu não conhecia nenhum dos caras da tripulação antes de entrar no barco. Passar tantos dias no mar com quem você não conhece, é como navegar no escuro... Meus amigos em terra ficaram preocupados por eu fazer essa viagem com estranhos. "E se eles estiverem levando drogas?". Essa foi a pergunta que mais me fizeram e que também me preocupava. Mas Gregor Biesenbach, dono do barco, quebrou esse meu receio quando me perguntou se eu tinha trazido comigo uma bandeira do Brasil para hastear no mastro do seu veleiro. Sim. Eu levei. Acho que nenhum traficante se preocuparia com tamanho simbolismo, se fosse praticar algo ilegal.


O veleiro Tortuga


Tivemos uma excelente convivência a bordo durante os 14 dias, 12 horas e 11 minutos em que permanecemos confinados nos 12 metros quadrados do Tortuga. Os rapazes têm entre 23 e 24 anos de idade (+ou- 10 a menos do que eu). Se somarmos as milhas náuticas do Gregor e do Aaron Vogel, as mesmas não chegariam nem na metade das minhas mais de 10 mil milhas já navegadas. Robert Nightingale ainda não tinha tido nenhuma experiência dentro de um veleiro. Mesmo assim, aprendi muito com a convivência com eles.


TRIPULAÇÃO

Max, Gregor, Aaron e Robert


São 3 nacionalidades diferentes. Dois alemães, um inglês e, eu, ítalo-brasileiro. As diferenças culturais se resumem a quase nada quando se está a bordo. A linguagem praticada no mar foi (e deve sempre ser) a da igualdade, do companheirismo, da equidade e do bom senso. Quanto a isso, posso afirmar que falamos a mesma língua. Gregor, como capitão, se mostrou um à altura da função. Aaron, marinheiro, foi sensível ao barco e à tripulação. Robert, que não sabia nada sobre velejar e ainda ficou enjoado nas primeiras horas no mar, foi humilde para ouvir, aprender e oferecer o seu melhor. Já eu, como first-mate (apesar de ser capitão do meu barco, o qual deixei em Lisboa para ajudá-los nessa travessia), usei de toda a minha experiência para termos segurança e sabedoria a bordo.


O chef na cozinha!


Também coube a mim preparar as refeições diárias, atividade que desempenho sempre com grande prazer. Meu ingrediente preferido a bordo: harmonia. Sem esse tempero, não é possível sentar-se à mesa ou cruzar um oceano.

"Fair winds to you, sailors!"


DADOS DA TRAVESSIA


Milhas náuticas percorridas

1.538 (2.848 km)

Tempo total no mar

14 dias, 12 horas e 11 minutos

Tripulantes

4

Refeições a bordo

27

Quilogramas perdidos

1,3 kg

Estrelas cadentes contadas

22

Satélites avistados

8

Ovnis

0,5 (leve suspeita...)

Contados imediatos de 3° grau

0

Dourados pescados

0

Atuns pescado

1

Baleias avistadas

2 (indivíduos)

Golfinhos felizes avistados

89

Tartarugas avistadas

1 (somente o veleiro Tortuga)

Submarinos avistados

0 (seria difícil, né?... rsrs)

Livros lidos

2 (De Carona para o Mundo, Vento do Norte)

Páginas escritas do meu livro

22 (quase terminando...)

Discussões a bordo

0

Enjoos

3 dias (somente o Robert)

Acidentes pessoais

1 (sem sangue)

Quebra de equipamento

1 (uma peça no motor)

Velocidade média

4.43 nós (8 km/h)

Velocidade (máx.)

10.1 nós (18 km/h)

Rajada de vento (máx.)

39 nós

Maior onda (aprox.)

5.5 metros

Banhos

3 (em 14 dias... ihhhh...)

Banhos de chuva

2

Sacos de lixo produzidos

8 (pequenos)

Peixes voadores suicidas no deck

0

Vezes que tive que virar a cueca

1

Nuvens no formato de elefante

4

Arco íris avistados

3

Animais torturados durante a travessia

0

Cantores (bandas) mais tocados

Dire Straits, Elton John, Queen, Bob Dylan, Raul Seixas


 

VÍDEOS DA TRAVESSIA


A partir de agora começo a compartilhar os vídeos que fiz durante a travessia. Acesse ao meu site pelos próximos dias para conferir tudo com exclusividade!



TRAILER DA AVENTURA


Acabo de completar a passagem entre Ponta Delgada, nos Açores, e Falmouth, na Inglaterra. Foram, ao todo, 14 dias no mar e 1.538 milhas náuticas (2.848 km) navegadas. Corpo cansado, mas a alma realizada. Esse é o trailer dessa incrível aventura. Compartilhe com os amigos!

Vídeo:

 

CHEGADA NOS AÇORES


Hoje vou partir em uma nova expedição! Dessa vez entre os Açores, ilhas portuguesas no Atlântico, até a Inglaterra. Vão ser aproximadamente 15 dias de navegação, nos quais eu vou ficar incomunicável. Vai ser uma grande experiência navegar pelo Atlântico Norte, onde os ventos e o mar testam os nervos dos velejadores.

Vídeo:

 

ABASTECENDO PARA PARTIR


Obviamente nós não vamos usar o motor em toda a viagem, mas é bom termos combustível suficiente para os momentos de pouco ou nenhum vento e, principalmente, para fugir (ou, pelo menos, tentar) nos afastarmos das tão temidas depressões açorianas utilizando o motor, também conhecido como "vela de aço".

Vídeo:

 

CHECANDO A METEOROLOGIA NA ROTA


Antecipamos a partida em 24 horas, pois a previsão era de mal tempo em rota. Quando chegamos na Inglaterra, descobrimos que, um dia depois de soltarmos as amarras, Ponta Delgada foi acometida por uma violentíssima tempestade que, segundo as informações, teria causado grandes estragos em dois veleiros que estavam na marina, além de haver falta de energia pelas horas que sucederam os fortes ventos e chuva.

Vídeo:

 


PRIMEIRAS HORAS NO MAR


A saída foi perfeita! Rodamos o motor por 3 horas e, a partir de agora, vamos seguir viagem somente com as velas. Estamos fazendo 6-7 nós de velocidade. Nossa posição é 38°05'42" N e 025°48'69" W. São os meus últimos minutos com acesso à Internet. Ainda consigo ver as luzes da ilha de Ponta Delgada, mas, em breve, será só mar no horizonte. Serão 1300-1500 milhas náuticas até Falmouth na Inglaterra.

Vídeo:

 

GOLFINHOS


Encontrar golfinhos no mar é bastante comum em longas travessias, mas, por mais acostumado que eu esteja, quando eles aparecem, eu vou pra proa do barco ou sento no cockpit esperando até eles irem embora. Geralmente eles vêm em grupos de 5 ou 6 indivíduos e permanecem nadando na proa (frente) do barco por 10 ou 15 minutos.

Vídeo:

 

CHUVA FORTE


As nuvens chamadas squalls, geralmente estão associadas aos fortes ventos. Essa é uma das maiores preocupação em travessias oceânicas, especialmente, de noite. Para identificá-las é possível utilizar o radar (que nós não tínhamos a bordo) ou observando sua silhueta no contrate com a pouca luz das estrelas.

Vídeo:

 


TURNO MATINAL


Como o barco nunca para de navegar, a tripulação tem que se revezar para que sempre alguém esteja no cockpit. Durante a noite eu sugeri de fazermos turnos de 3h. Ao longo do dia, os turnos são um pouco mais longos (4 horas). Dessa maneira, conseguimos "descansar" por, mais ou menos, 9h entre cada turno, o qual chamamos de "watch". Esse turno de 6h às 9h para mim é o melhor, pois posso assistir ao nascer do sol. A beleza de um amanhecer nunca se repete no outro dia. É um privilégio saber que esse espetáculo da natureza está acontecendo somente para mim, em um raio de muitas milhas ao meu redor.

Vídeo:

 

MASSA COM COGUMELOS


Cozinhar a bordo é uma das coisas que eu mais gosto de fazer. Como temos tempo para nos dedicarmos às pequenas, mas importantes coisas da vida, preparar as refeições se torna um passatempo muito agradável para mim. Procuro utilizar os ingredientes mais frescos no início da viagem para que eles não estraguem e sempre levo a bordo comidas enlatadas que duram mais, apesar de não serem tão saudáveis. Essa receita de cogumelos com brócoli no molho branco já é um clássico da minha "cozinha". Definitivamente, comer bem durante a navegação faz com que o corpo se sinta mais bem cuidado. Comidas quentes, saborosas, bem preparadas são comfort foods no meio do mar.

Vídeo:

 

AJUSTANDO AS VELAS


Como os ventos ficaram mais fortes nas últimas horas, decidimos rizar as velas. Isso significa diminuir a o "tamanho" de exposição das velas no mastro. Também dizemos diminuir a área vélica. Como diz o ditado: "você não pode mudar os ventos, mas pode ajustar as velas". Neste caso, ajustamos as velas para seguir velejando com segurança.

Vídeo:

 

DIVIDINDO A CABINE


A cabine de proa, também conhecida como v-berth por ter o formato de um "v", é a que mais balança com as ondas. Mesmo assim, eu consegui descansar durante minhas horas off. Como o Tortuga só tem duas cabines e nós estávamos em 4 pessoas, Aaron e eu dividimos a cabine de proa, Gregor ficou com sua cabine à meia nau e o Robert dormiu na sala, onde o balanço do barco era menos desconfortável.

Vídeo:

 

PEIXE A BORDO


Pescamos um bonito atum para o café da manhã. Apesar de não ser muito grande, depois que eu limpei o peixe, consegui tirar 4 postas (uma para cada um da tripulação). Pescar durante a travessia é uma forma de obter proteína animal fresca para as refeições. De ingredientes para o preparo eu sempre levo limão, sal e pimenta. Dependendo do cardápio, acrescento outras especiarias.

Vídeo:

 

PRIMEIRO BANHO


Mergulho no meio do mar para tomar banho depois de 4 dias... Não que eu tivesse brigado com o sabonete ou deixado de falar com o shampoo. Mas, navegando, às vezes, fica mesmo complicado. De toda forma, o clima não está muito quente, o que faz com que não transpiremos tanto. O jeito é ter uns lenços higiénicos para passar "nos países baixos" (se é que vcs me entendem) e nas outras partes onde acumulamos suor. A temperatura da água estava baixa, mas a vontade do banho e da experiência de mergulhar onde poucos (ou ninguém) mergulhou, foi maior.

Vídeo:

 

O PEIXE FOI PRA PANELA


Eu queria ter feito um sushi desse pequeno atum que pescamos, mas fui voto vencido entre a galera, que preferiu que eu fizesse o peixe na frigideira. Mesmo assim, ficou muito bom. Coloquei limão, sal, pimenta, um pouco de gengibre e outras especiarias que tínhamos a bordo. para acompanhar, fiz um arroz com cebola, alho, ervilha e raspas de limão siciliano. Depois que empratei, coloquei uma redução de teriyaki com balsâmico sobre o peixe.

Vídeo:

 

CARAVELA-PORTUGUESA


Nos atentamos para a quantidade de águas vivas no meio do Atlântico, quando vimos a "vela" da caravela-portuguesa boiando no mar. Elas costumam utilizar dessa parte externa para, literalmente, navegar, utilizando-se dos ventos de superfície como fazem os veleiros. Muito provavelmente isso tenha sido o motivo da origem do seu nome. Elas são extremamente venenosas, apesar de serem muito interessantes. São uma colônia de organismos geneticamente diferentes e altamente especializados que aparentam ser uma única criatura. Ainda bem que, durante o nosso banho, não vimos nenhuma. A galera sairia correndo da água.

Vídeo:

 

PASTA DE AMENDOIM


Pela manhã geralmente eu faço torradas com queijo ou pasta de amendoim com chocolate, enquanto a galera dá uma geral na louça da noite anterior. A rotina no barco é bastante flexível e, ao longo da viagem, cada um vai achando uma tarefa que se sente mais confortável de fazer. Tem aquela regra: quem, cozinha não lava... Apesar de não me importar em lavar a louça, eu prefiro ficar por conta de preparar as nossas refeições.

Vídeo:

 

VACA RALADA


No início da travessia eu decidi usar os ingredientes que estragam mais rápido. Por isso fiz essa carne moída em um dos primeiros dias da viagem. Nossa expectativa é ter até 30 refeições (almoço e jantar) a bordo até chegarmos na Inglaterra.

Vídeo:

 


PREENCHENDO O TEMPO


São muitas horas de navegação. O barco não para em nenhum minuto, então a rotina da tripulação deve se adaptar aos turnos de vigia, ou como falamos em inglês "watch". Nas horas de folga, eu procuro ler ou escrever. Estou quase terminando o meu próximo livro, o qual pretendo lançar no ano de 2021. Escrever a bordo é uma grande inspiração e, sempre que me vem uma ideia nova, eu abro o computador e começo a escrever. Para carregar a bateria do laptop, somente quando o motor está em funcionamento, pois o carregador das baterias do barco não é tão potente assim.

Vídeo:

 

LIFE VEST INCIDENT


Durante todo o tempo em que estamos velejando utilizamos nossos coletes salva-vidas. Eles ficam presos em algum ponto fixo no barco ou na linha de vida, um cabo que vai da proa a popa do barco e que nos mantém preso enquanto estamos trabalhando as velas. O Aaron teve um incidente com o colete dele, que disparou sozinho enquanto ele ajustando a vela. Por sorte nos temos outro colete a bordo. Assim ele não ficou desfalcado no quesito segurança.

Vídeo:

 

BELO AMANHECER


Como os ventos diminuíram nas últimas horas, precisamos ligar o motor para nos colocarmos à frente da próxima zona de baixa pressão que está prevista para os próximos dias. As zonas de baixa pressão na região dos Açores são bem conhecidas pelo seu poder e intensidade de ventos que causam grandes ondas e mar violento. Mesmo com o motor ligado, deixamos as velas abertas, aproveitando um pouco da brisa que, por enquanto, ainda sopra a nosso favor. A vantagem de fazer o turno das 3h às 6h da manhã é poder contemplar o nascer do sol. Cada dia é um espetáculo novo. Especialmente quando o mar está calmo e as nuvens se preenchem com o brilho matinal.

Vídeo:

 


BOMBS AWAY!


Como muitas pessoas têm curiosidade por saber como funciona o banheiro em um veleiro, resolvi gravar esse vídeo. Geralmente os barcos têm uma caixa de detritos que armazena o esgoto, mas isso não é regra. Essa caixa funciona para que você possa controlar o que é despejado no mar e quando isso deve ser feito. Por exemplo, dentro de uma marina, não é aconselhável jogar os detritos diretamente na água por conta da maior concentração de embarcações. Já no meio do mar, depois que damos a descarga, o material orgânico e o s líquidos produzidos no barco (chuveiro, cozinha banheiro) se dissolvem na água. Isso não representa um problema para o meio ambiente, pois o volume de descarte é pequeno. Uma coisa que pode ser prejudicial ao meio ambiente são os produtos químicos que nós utilizamos no dia a dia, como: pasta de dentes, shampoo, detergente... Para solucionar essa questão, podemos usar a bordo produtos orgânicos e biodegradáveis.

Vídeo:

 


JACK SPARROW


Definitivamente, Jack não é um pardal... Na verdade, não sei qual a espécie do passarinho que invadiu nosso barco, 350 milhas náuticas (648 km) da costa, no Atlântico Norte, durante a travessia entre os Açores e a Inglaterra. Mesmo assim, apelidei o bichinho de "Jack, the Sparrow" em homenagem ao personagem do Johnny Depp em Piratas do Caribe. Receber a visita desse lindo amiguinho depois de uma tempestade foi algo muito sublime. Ele ficou conosco por pelo menos 2 horas, saltando de um lado para o outro. Nós oferecemos água e pão para ele, enquanto ele se acalmava do susto que deve ter levado com os fortes ventos nas horas anteriores. São momentos assim que me fazem reconhecer a magia de velejar e viver a bordo de um veleiro.

Vídeo:

 

MEXICAN LUNCH


Antes de iniciar a travessia entre os Açores e a Inglaterra, eu fiz um cardápio bem diverso de coisas que poderíamos preparar durante a viagem. Fui ao mercado com a tripulação e deixei a turma livre para escolher o que teriam vontade de comer. Algumas coisas são muito básicas para se comprar, como massa, pão, queijos... Outras, mais específicas, exigem conhecimento na hora do preparo. Esse almoço mexicano surgiu como ideia quando comprei os abacates. Comprei também os ingredientes que eu imaginava usar e os temperos certos para dar o devido sabor mexicano. O resultado agradou os "olhos" e o paladar!

Vídeo:

 

TELEFONE SATELITAL


Nós deixamos os Açores sabendo que a previsão meteorológica seria bastante severa depois de uma semana de navegação. Nossa única forma de atualizar os dados da previsão era através do telefone satelital que levamos a bordo. O Gregor combinou de contatar um amigo na Alemanha, que ficou encarregado de nos dar os updates do clima à nossa frente. A cada três dias nós iríamos telefonar para ele para saber se deveríamos fazer algum desvio significativo na nossa rota, a fim de "fugir" de alguma zona de baixa pressão ou para buscar as regiões de melhores condições de ventos. Quando deixamos as ilhas portuguesas sabíamos da tempestade que estava para se aproximar. Então, quando recebemos a confirmação, pudemos nos preparar para o que estava por vir.

Vídeo:

 

QUINTO TRIPULANTE


O piloto automático de vento poderia ser considerado apenas um conforto a bordo, mas na verdade ele nos traz mais segurança para a navegação, pois ajusta o rumo do barco em função da alteração dos ventos. O sistema é muito confiável e trabalha sem descanso durante todo o tempo. Além de não precisar "dormir", nosso quinto tripulante também não reclama de cansaço, não tem fome, não dá trabalho e não discute com a tripulação (rsrs). Como os ventos aumentaram nas últimas horas, o trabalho do piloto automático é essencial para conduzirmos o veleiro ao nosso destino com eficiência, segurança e também conforto. Se não tivéssemos esse equipamento a bordo, teríamos que levar o barco "na mão" o tempo todo, o que faria com que a travessia entre os Açores e a Inglaterra fosse infinitamente mais cansativa para toda a tripulação.

Vídeo:

 

"RESTÔ D'ONTÊ"


As refeições a bordo estão sendo muito bem preparadas. Ninguém tem passado fome ou se alimentado de maneira ruim. Apesar de estarmos bem alimentados, às vezes dá aquela vontade de comer besteira, junk food. Na noite anterior o Robert tinha feito um delicioso arroz com legumes e curry para jantarmos. Mas como sobrou um pouco da refeição do dia anterior, para "café da manhã" nós decidimos resgatar as sobras e fazer uma gororoba para a tripulação. Enchemos o arroz com ketchup e maionese e servimos na própria panela que o Robert havia utilizado para cozinhar. Claro que quando se está com fome qualquer coisa fica bom. O mais divertido disso tudo é ver a tripulação se adaptar e curtir a viagem sem frescura. No final das contas, o arroz estava saboroso e, cada um com a sua colher, pode se deliciar e matar a fome matinal.

Vídeo:

 

CAPTAIN'S PANCAKE


A maioria das refeições a bordo foram preparadas por mim, mas o restante da tripulação também se "aventurou" na cozinha, mostrando seus dotes culinários em diversas ocasiões. Robert preparou um delicioso arroz com legumes ao curry; Aaron também fez uma massa com molho picante e salsichas alemãs, que ficou muito saborosa; Faltava o capitão Gregor apresentar alguma de suas receitas para o tripulantes e ele não nos poupou do prazer que sacia o corpo e a alma... As panquecas de maçã que ele fez como lanche da tarde nesse dia ficaram muito gostosas e nós comemos até não aguentarmos mais. A receita é muito simples, mas muito eficiente no quesito nutritivo de seu propósito. A cada dia que passamos juntos, fomos reconhecendo o talento de cada um, na cozinha ou na intensa convivência dentro do veleiro Tortuga.

Vídeo:

 

"SE AGASALHA, FILHO..."


Eu combinei de telefonar (via satélite) para a minha mãe a cada três dias, durante a travessia dos Açores para a Inglaterra. Como no total foram 14 dias de navegação em alto mar, nos falamos apenas 5 vezes e pelo tempo de um ou dois minutos, no máximo, pois a ligação era muito cara. Mas enquanto ela não recebia a minha chamada, ela não sossegava... Imagino a preocupação dela com o filho navegando em um veleiro no Atlântico Norte, ainda mais depois de eu a avisar que nos próximos dias iríamos enfrentar condições ainda mais severas com a chegada de uma depressão açoriana. Haja reza boa de mãe!

Vídeo:

 

VENTOS MAIS FORTES


Como era previsto (e para a preocupação da minha mãe) os ventos começaram a aumentar. Essa região no Atlântico Norte é bastante conhecida pelas depressões açorianas, que trazem ventos fortes e condições de mar muito mexido. Nós estamos esperando ventos de até 50 nós (92 km/h). Com certeza teremos que reduzir as velas para evitar o estresse da pressão no mastro. Também vamos deixar comida preparada para as próximas refeições, uma vez que as ondas aumentaram de tamanho e intensidade e fica muito difícil de cozinhar. Quando deixamos a ilha de Ponta Delgada nos Açores, já sabíamos que iríamos enfrentar esse trecho mais difícil. Nos próximos vídeos vocês vão ver como é estar em um barco no meio de uma tempestade.

Vídeo:

 

REDUZINDO A ÁREA VÉLICA


Rizar as velas significa diminuir a exposição das mesmas no mastro. Também dizemos: diminuir os panos. Como os ventos estão mais fortes, fizemos isso para evitar estressar a estrutura do mastro. Mesmo com ventos mais fortes, vamos navegar bem com menos "pano". Agora é aguardar essa baixa pressão passar.

Vídeo:

 

FEIJOADA "AL MARE"


Cozinhar a bordo é sem dúvida uma das coisas mais difíceis de se fazer... Não é só a questão do balanço do mar que dificulta, mas também o preparo dos alimentos que deve seguir uma coerência para não errar o tempo do prato e a disponibilidade dos ingredientes que são necessários. Pensar uma refeição dentro do barco, começa quando nós ainda estamos em terra! Para este dia de domingo eu preparei algo que eu queria muito comer, mas que também queria muito "aplicar" na tripulação. Eles nunca tinham provado a feijoada brasileira e, experimentar essa delícia da culinária do Brasil em alto mar, teve um sabor diferente. Para acompanhar a refeição, eu fiz uma farofinha e um vinagrete. O prato foi aprovado e o cozinheiro também.

Vídeo:

 


VELA DE TEMPESTADE


Agora os ventos apertaram para valer! As condições meteorológicas estão mesmo se mostrando mais severas como os prognósticos haviam previsto. A vela de tempestade tem a função de manter o barco navegando, mesmo que com uma área vélica menor.

Vídeo:

 


HORA DO DESCANSO


Nós nos revezamos em turnos de vigia para cumprir as mais de 350 horas de navegação entre os Açores e a Inglaterra. Fazemos turnos de quatro horas durante o dia e três horas durante a noite. Assim conseguimos ter mais ou menos 9 horas de "descanso" entre um turno e outro. Para passar esse tempo eu gosto de ler, escrever, cozinhar ou apenas contemplar as horas passando lentamente no mar... Esse barulho que se ouve no vídeo é das coisas batendo de um lado para o outro dentro do barco com o balançar das ondas. Chega uma hora que a gente se acostuma e nem percebe mais o barulho...

Vídeo:

 

BALANÇA, MAS NÃO AFUNDA...


Preparar as refeições a bordo, durante uma travessia, com o mar mexido e o balanço do barco que não para nenhum minuto, faz da tarefa diária um desafio trabalhoso... Mesmo assim eu gosto de cozinhar a bordo. É importante você ter em mente as etapas do que quer preparar. Mesmo um simples lanche depende de você saber bem o que vai fazer, pois, por exemplo, se deixar um prato solto em cima da mesa, ele cai... Receitas mais complexas então, devem ser bem planejadas.

Vídeo:

 

MUDANÇA DE PLANOS


Quando estamos navegando fazemos um planejamento a ser cumprido, mas muitas vezes temos que adaptar os planos em função da realidade que encontramos pela frente. Quando deixamos as ilhas dos Açores no meio do oceano Atlântico, imaginávamos seguir os bons ventos até a Inglaterra. Mas, como os ventos mudaram, tivemos que avaliar outras opções para conduzir o barco com segurança e eficiência. Dentre as opções que nós temos para seguir viagem, está a França. Nas próximas horas nós tomaremos uma decisão definitiva.

Vídeo:

 

UPWIND SAILING


As últimas 24h foram bem difíceis por conta dos ventos e das correntes que insistem em nos levar para o norte ou para uma rota perpendicular ao nosso destino. Quando os ventos vem pela proa do barco (upwind), temos que fazer ângulos maiores para avançar. Nem sempre é possível manter a rota planejada. Se as condições não melhorarem nas próximas horas, teremos que racionalizar os suprimentos de comida e água. Pior do que ventos fortes, seria ficarmos parados em uma zona de calmaria por muitos dias.

Vídeo:

 

SEPARAÇÃO DE TRÁFEGO


Conforme nós nos aproximamos do English Channel a quantidade de barcos, especialmente cargueiros, na nossa rota aumenta. Isso exige uma atenção maior para a navegação, fazendo com que os turnos, tanto de dia quanto de noite, sejam mais estressantes. Mesmo assim, o Tortuga está equipado com um AIS (automatic identification system), que nos avisa dos barcos ao nosso redor. A comunicação feita via rádio é para ajudar nessa separação dos tráfegos e também acaba por ser um passatempo legal depois de tantos dias navegando sem contato com a terra ou com outras embarcações.

Vídeo:

 

MAMMA MIA!


Fazer pizza no meio do Atlântico Norte não me parecia a melhor ideia... Mas com a ajuda da tripulação eu consegui chegar próximo do meu objetivo. Eu utilizei umas tortillas que estavam sobrando a bordo para servir de base e, quando eu estava para terminar a receita, resolvi fechar a pizza e servir tipo um calzone. O mar nesse dias estava mesmo muito mexido, mas o esforço valeu a pena. A alimentação para mim é uma das coisas mais importantes quando vou atravessar um oceano. O fato de estarmos bem nutridos ajuda a manter a resistência física e emocional.

Vídeo:

 

BOIANDO...


Depois da tempestade vem a bonança! É sempre assim. Pra quem resiste ao mau tempo, a recompensa é um mar mais calmo. Aproveitamos que as águas estavam tranquilas para ajustar o piloto automático de vento. A água estava gelada, mas com o sol a brilhar, também aproveitei para tomar o terceiro banho da viagem. Em 14 dias, foram 4 banhos tomados. A sensação é ruim, mas nessa viagem não tínhamos um chuveiro dentro do barco.

Vídeo:

 

BOAS NOVAS


Em certa altura da travessia dos Açores para a Inglaterra nós tivemos que reavaliar as condições dos ventos para decidir se conseguiríamos mesmo chegar no nosso destino final, conforme planejado. As previsões não eram boas, a corrente nos empurrava para trás e os ventos de proa não nos ajudavam a fazer um ângulo bom para Falmouth na ilha inglesa. Mudamos o curso do veleiro para Brest, na França. Ninguém da tripulação estava satisfeito com essa mudança, mas não havia nada que pudéssemos fazer. Navegamos por uns três dias com essa nova rota até que recebemos a confirmação de que os ventos voltariam a rondar e, agora sim, teríamos um bom ângulo para a Inglaterra. Foi um alívio sabermos que iríamos conseguir chegar ao nosso objetivo final.

Vídeo:

 


ÁGUA NO PORÃO


As ondas aumentaram bastante nas últimas horas. O barco está sendo "lavado" pelo mar e isso faz com que alguma infiltração aconteça. É preciso ficar atento com a água que invade o veleiro. Isso é bastante comum, apesar de não representar perigo iminente.

Nós estamos quase chegando no nosso destino final. Todo cuidado com a navegação é pouco. A travessia só termina quando amarramos o barco no novo porto.

Vídeo:

 

GOLFINHOS FELIZES


Golfinhos felizes acompanhando o veleiro a se deslocar rumo a Inglaterra! Criaturas graciosas demais! Cada um desses encontros revelam para nós como a natureza é mágica e especial no mar. Sempre fiquei intrigado em saber o que faz esses seres acompanharem as embarcações no mar. Talvez eles sejam curiosos, talvez eles estejam brincando... Independentemente do motivo, a recompensa em navegar é expressa em cada um desses encontros.

Vídeo:

 

QUASE CHEGANDO...


Mais de 150 golfinhos apareceram nessa linda manhã de céu refletido no espelho d'água. Uma sensação de missão cumprida por quase chegar na Inglaterra depois de 14 dias navegando pelo Atlântico Norte. Essa é uma viagem muito especial pra mim. Estou a completar mais de 10 mil milhas náuticas. Enfrentei diversos desafios, físicos e emocionais, em cada uma de minhas travessias. São experiências como essa, em dias de mar calmo, que reconheço a importância de me manter firme pelas tempestades da vida. Recompensa que recebo humildemente, mas que me faz sentir forte por saber escolher os caminhos que desejo para mim e, acima de tudo, por ter compreendido a marcha (ou o melhor ajuste das velas) para seguir em frente.

Vídeo:

 

BARBEIRO A BORDO


Dando aquela aparada na barba e no bigode antes de me apresentar novamente à civilização!

Vídeo:

 

PROBLEMA NO MOTOR


Quando o motor deu pau, achei que fôssemos ficar boiando até que os ventos voltassem a soprar...

Pensei logo no estoque de comida que eu tinha comprado para o barco. Ficou por minha conta comprar as provisões e eu não teria comida suficiente para mais de 4 dias extras no mar... Ficaríamos bem apertados com os suprimentos.

Uma viagem só acaba quando chega no fim. Nessa travessia entre os Açores e a Inglaterra não poderia ser diferente. Quando já estávamos quase para chegar, identificamos um problema no motor que teríamos que solucionar para finalizar a viagem. Mesmo em um veleiro fazemos uso do motor em muitos momentos, especialmente quando temos poucos ou nenhum vento ou para entrar e sair dos portos. O problema que tivemos parecia ser mais simples do que pensamos inicialmente, mas, após trocarmos o filtro de combustível, percebemos que o cabo da alavanca de potência estava solto e, por isso não conseguíamos desenvolver a potência necessária para continuar seguindo. Eu tenho pouca experiência em motores à diesel, mas já passei por algumas situações que me fizeram aprender o básico para me "safar" em algumas situações críticas. Como a maioria dos motores são semelhantes, eu consegui utilizar do meu conhecimento para resolver o problema. No mar é assim, não dá para contar com ajuda externa. A partir de agora faltam poucas horas e poucas milhas náuticas para Falmouth na Inglaterra. Não vemos a hora de chegar e por os pés em terra firme!

Vídeo:

 

LAND AHOY!


Chegar em um novo país depois de passar duas semanas navegando no mar é algo surpreendente. Eu nunca me imaginei fazendo isso. Nunca pensei em viver em um barco e agora já são três anos nessa vida mais simples e em contato com a natureza. Nós avistamos as primeiras luzes da costa da Inglaterra durante a noite, logo após o jantar. Fizemos uma aposta para ver quem acertava o momento em que veríamos as primeiras luzes da civilização no território inglês. Fui eu quem acertou o horário mais próximo. Ganhei um rodada de cerveja quando aportássemos. Mas ainda tinha o prêmio para quem sugerisse a melhor estimativa da nossa chegada no porto de Falmouth. Essa disputa ficou para o Gregor. Depois de tantos dias somente em contato com o mar, passando por desafios que eu nunca tinha enfrentado velejando, foi um enorme prazer desembarcar. Os barcos (e a tripulação) mais seguros no porto, mas não foi para isso que eles foram criados. A vontade de navegar é um desejo ancestral e hereditário que herdamos dos nossos antepassados. O homem não tem autoridade nenhuma nesse ambiente aquático, mas mesmo assim se lança ao mar com a mesma ambição dos tempos passados. Seja para conquistar um objetivo geográfico, seja para vencer seus temores mais íntimos, a humanidade sempre dependeu da coragem e do conhecimento para conquistar algo novo no horizonte. Sinto-me privilegiado por ter tido algumas experiências que me fizeram enxergar o mundo com outros olhos.

Vídeo:

 

NAS TERRAS DA RAINHA


Depois de 14 dias, 12 horas e 11 minutos amarramos o TORTUGA no píer da Falmouth Haven Marina, na Inglaterra. Por causa das restrições da pandemia, os responsáveis pela marina nos seguraram por mais 2 horas dentro do barco, até que preenchêssemos um formulário online de responsabilidade e comprovássemos que estávamos em "quarentena" durante a travessia dos Açores até a Inglaterra. Como o diário de bordo de um veleiro é um documento oficial, apresentamos o diário como comprovação da nossa viagem e do tempo que passamos embarcados. Mas a chegada foi mesmo especial. Ainda durante a noite anterior avistamos as luzes da cidade e o farol de Lizard Point. "Terra" mesmo só conseguimos ver quando amanheceu. Fizemos um café e ficamos contemplando a paisagem da costa de Cornwall até chegar ao nosso destino em Falmouth. Que experiência incrível! Durante os dias no mar, nós vimos golfinhos, centenas de águas vivas, pescamos, passamos por tempestades que eu jamais tinha experimentado, precisamos arrumar o motor que deu problema e eu ainda cozinhei, li, escrevi e, ao final das mil e 500 milhas náuticas, completei 10 mil milhas navegadas. O que me espera a partir daqui, só mesmo o futuro poderá revelar. Por hora é preciso descansar e pisar em terra firme. Foi uma grande satisfação velejar com o Gregor, o Aaron e o Robert. Espero encontrá-los novamente pelos portos da vida. E mais uma vez: "Terra à vista!". Vídeo:


 

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